Sexta-Feira Santa

23/03/2010 15:45

       Neste dia, em profundo luto, celebramos a entrega de Cristo e doação total de sua vida para a salvação da nossa. Contemplando o Senhor sendo crucificado e morto no calvário, somos também convidados a morrermos com ele e ressucitarmos para uma vida nova logo em seguida.

                                    

        Desde os tempos mais antigos, comemora-se o dia da morte de Jesus, por meio de uma celebração sem eucaristia completa. Para esta última, espera-se até a Vigília Pascal, a fim de poder celebrar a consumação de Jesus em todos os seus aspectos.

        O culto litúrgico de Sexta-Feira Santa é dominado, naturalmente, pelo luto. No fundo, porém, já se houve uma nota de alegria inicial: se a morte de Jesus é um fim, ela é, igualmente, um novo princípio, o de um mundo melhor. “Se o grão de trigo não morrer...”. A estrutura da liturgia assemelha-se à da santa missa: no começo, serviço de palavra e de oração, e, no fim, a comunhão eucarística. No meio, entre os dois, faz-se a veneração da Santa Cruz, em lugar do serviço sacrificial.
Logo depois da entrada, o celebrante prostra-se ao chão, em frente ao altar. Em seguida, lêem-se trechos: Antigo Testamento- Is 52, 13-53, 12, Salmo 30 e Novo Testamento - Hb 4, 14-16; 5,7-9, em que se proclama a confiança no poder revi vivificador de Deus e se mencionam as condições exigidas para isso, condições estas perfeitamente realizadas em Jesus; e a Carta aos Hebreus, que trata de Cristo, sumo sacerdote, com seu sangue salvífico. –Como evangelho, segue-se, então, a narrativa da Paixão segundo São João, na qual resplandece melhor a glorificação de Jesus (Jo 18, 1-19, 42).
Reza-se depois, uma série de súplicas solenes pela humanidade inteira. Elas são de um calor irradiante, em sua simplicidade. Datam, provavelmente, do tempo das perseguições romanas.

        A seguir, realiza-se a adoração da Santa Cruz. Em três fases, tira-se o pano roxo ou vermelho de um crucifixo grande, enquanto se canta, por três vezes, num tom sempre mais alto: “Eis o lenho da cruz, no qual pendeu a salvação do mundo”. Em resposta, todos cantam juntos: “Vinde, adoremos!”. Organiza-se, então, a procissão para a adoração. Cada um dos fiéis aproxima-se da Cruz para, ajoelhado, beijá-la com respeito e amor. Adora-se assim, o Senhor no sofrimento que ele padeceu, e na glória que adquiriu.

        Entrementes, cantam-se os chamados impropéria, que são de uma tonalidade tão especial, que não tem igual em todo o resto da liturgia romana.
Depois dessa solene adoração da Cruz, reza-se, em conjunto, o Pai Nosso, e recebe-se, devotamente, a santa comunhão, que dá participação no Senhor.

       Existe outra maneira de se vivenciar o mistério desse dia: a Via Sacra. Contrariamente à celebração litúrgica, pode ser feita individualmente. O modo com que se reza a Via Sacra é profundamente humano e, ao mesmo tempo, autenticamente evangélico: segue-se, passo por passo, aquilo que é o ponto culminante nos evangelhos, a saber, a paixão e a morte do Senhor. Contudo, a Via Sacra não é tão completa quanto o Evangelho e a liturgia, por não fazer transparecer, tão nitidamente, a glória de Cristo.

       As Igrejas reformadas comemoram, nesse dia, de modo particular, a morte de Jesus, pela celebração da Ceia eucarística.

        Todos os cristãos passam a Sexta-Feira Santa no maior recolhimento possível e na mais profunda gratidão. O dia resume-se em luto e adoração ao madeiro da Cruz e aquele que está crucificado para a nossa salvação.

                                                  Bibliografia: O Novo Catecismo (Herder)

Fiel madeiro da Santa Cruz, oh árvore sem igual! Que selva outro reino produz, que traga em si fruto igual? Quão doce peso conduz, oh lenho celestial! Fiel madeiro da Santa Cruz, oh árvore sem rival!